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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Reflexões sobre a inclusão



(Viviane do Nascimento Esteves)


A educação de pessoas com deficiência tem mudado de orientação ao longo dos anos, de forma que, o que antes era visto como educação especial hoje é visto como educação inclusiva. Essa é uma diferença que reflete mudanças de como a sociedade percebe as relações humanas e aponta para um futuro onde todos nós possamos lidar com todos os tipos de diferenças de forma natural.
Essa mudança de perspectiva faz com que hoje, alunos com deficiência, estudem em escolas regulares e não mais em escolas especiais. Essa simples mudança faz com que todos nos, professores e alunos, possamos aprender a lidar com as diferenças, repensar e recriar novas práticas educativas que possam atender a diferentes objetivos em alunos que encontram-se em diferentes níveis de desenvolvimento.
As atividades verdadeiramente inclusivas são necessárias e indispensáveis para a aprendizagem de todos, aprender a ser, fazer, pensar e aprender, são os novos desafios que impulsionam a capacidade de criar e buscar soluções.
Na antiga perspectiva da educação especial, as crianças que não tinham acesso a escola especial e ficavam (ao invés de estudar) em escolas regulares, recebiam (ao invés de participar) atividades diferenciadas. Buscava-se com isso um processo de adaptação desses alunos onde a escola era vista como uma instituição fechada em um molde pré-determinado (as ditas formas, sem acento diferencial) e onde os alunos é que deveriam se adaptar.
É importante ressaltar que as instituições de educação especial é que abriram as portas para que hoje possamos pensar e construir uma educação inclusiva, pois até o século XIX pessoas com deficiência eram excluídas de qualquer tipo de educação formal e marginalizadas da sociedade. As famílias envergonham-se de seus filhos portadores de deficiências e os segregavam de qualquer convívio social. Se pudéssemos voltar em um tempo ainda mais remoto, na antiguidade, veríamos recém-nascidos com deficiências serem mortos pelos próprios pais ou abandonados na selva para que fossem mortos. infelizmente nos dias de hoje também podemos ver mães que abandonam seus filhos com deficiência ao nascer e pais que deixam a família quando a mulher dá a luz a uma criança especial. O preconceito existente na sociedade e a falta de informação faz com que esses pais abandonem seus filhos com medo de enfrentar as barreiras que a vida lhes impõe.
Por outro lado, o movimento e a 1uta pela inc1usão tem se demonstrado cada vez mais forte em todo o mundo, e pais cada vez mais dedicados estão demonstrando para a sociedade que seus filhos podem levar uma vida digna e plena apesar das desvantagens que a deficiência lhes impõe, desde que hajam esforços para romper com essas barreiras.
Nossa Constituição de 1988 assegurou a todas as crianças brasileiras o direito de "ser diferente" instituindo como um dos princípios do ensino a igualdade de condições de acesso e permanência na escola (C.F. art.206, inciso I). Elegeu como fundamento da nossa Republica a cidadania e a dignidade da pessoa humana (C.F. art 1.º, incisos II e III), e como um dos seus objetivos fundamentais [...] a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art.3°, inciso IV) adiantando-se a declaração de Salamanca, que preceituou, em 1994:
[ ] " todas as escolas deveriam acomodar todas as crianças, independente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Deveriam incluir todas as crianças deficientes e superdotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade [...] As escolas têm que encontrar uma maneira de educar com êxito todas as crianças, inclusive as que tem deficiências graves. "
A promoção da educação inclusiva esta fundamentada no princípio da universalização do acesso a educação e na atenção à diversidade, e requer uma filosofia de educação e qualidade para todos. Na busca desse pressuposto é essencial o desenvolvimento de uma pedagogia centrada nas relações de trocas sociais, ampliação da participação da família e comunidade nos espaços educacionais, a organização das escolas para essa participação, a organização das escolas para a participação e aprendizagem de todos os alunos e alunas e a formação de redes de apoio a inclusão.
Sendo assim, o movimento pela inclusão se constitui numa postura ativa de identificação das barreiras que alguns grupos encontram no acesso `educação e também na busca dos recursos necessários para ultrapassá-las, consolidando um novo paradigma educacional na construção de uma escola aberta as diferenças. 
Entretanto, é necessário se tomar o devido cuidado com os processos de diferenciação. Muitas vezes, escolas com intuito de acertar, acabam tomando caminhos equivocados e caindo em armadilhas na busca em construir uma pedagogia inclusiva.
Diferenciar para incluir não só é possível como necessário. Um aluno cego que utilize um computador em sala de aula não está sendo excluído ou diferenciado do grupo, visto que o computador é a ferramenta que lhe permite participar das aulas com mais autonomia e reduz as barreiras entre professores e aluno, tornando-se um meio eficaz de elaboração de trabalhos que possam ser entregues diretamente ao professor da disciplina, sem necessitar de transcrição. Diferente do que ocorre com o sistema braille. 
Nesse caso, o direito à igualdade está resguardado, pois tratar com igualdade não é tratar de forma igual aqueles que encontram-se em situação de desvantagem, é tratá-los de forma diferenciada afim de igualizar ou diminuir as desigualdades. Essa diferenciação é útil, não segrega e diminui barreiras ao aprendizado. Totalmente diferente de alunos que são diferenciados por participarem de programas de reforço escolar ou atendimentos individualizados. Esses programas acabam restringindo conteúdos e oportunidades, e acabam sendo ajustados e individualizados sempre com a pretensão de que podemos decidir sobre o que esses alunos tem ou não capacidade de aprender. Essa tendência não reflete uma pratica verdadeiramente inclusiva. Embora muitos pensem que essas diferenciações são inclusivas, pois do contrário os alunos não estariam tendo suas necessidades e especificidades atendidas. Na prática, demonstra uma tentativa de customizar o processo educativo e a exclusão se manifesta. Sendo assim, esses programas devem ser considerados discriminatórios.
Em busca de uma prática verdadeiramente inclusiva é necessário se pensar em uma pedagogia da diferença, que já é inclusiva por natureza, trazendo grandes mudanças para a sala de aula, diminuindo a função do professor como detentor do saber e deixando espaço para que a criatividade e as descobertas se manifestem a partir das experiências e buscas dos próprios alunos. Todos devem aprender a ensinar em um ambiente escolar caracterizado pela diferença. Os conteúdos devem ser disponibilizados para todos, e as atividades sempre diversificadas e de livre escolha. Assim o próprio aluno poderia customizar seu ensino, ao ter em suas mãos o caminho que traçará para aprender.

Bibliografia
BRASIL. Constituição federal. Brasília: Senado Federal, Centro gráfico, 1988.
MAYOR, F. Declaração de salamanca. Linha de ação sobre necessidades educativas especiais. OREAL/UNESCO. Brasília: CORDE, 1994.
MANTOAN, Maria Tereza Egler. Um contraponto necessário. LEPED/IJNICAMP
Política de Educação Especial. Na perspectiva Inclusiva. SEESP/MEC (2008)

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